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Autor alcança prestígio, mas já foi ao fundo do poço. Hoje, trabalha para trazer de volta toda a obra revista e reeditada ao leitor

Airton Paschoa não se ilude mais. Diz que desistiu de vez da fama e fortuna na carreira de escritor; primeiro, porque vivemos uma era audiovisual, em que a literatura perdeu a reputação que gozava; e, segundo, e mais importante, porque poesia e gêneros afins, os quais pratica, nunca desfrutaram de público amplo no próprio âmbito literário.

Penou, mas nunca parou de escrever. Até que o reconhecimento da crítica veio e ladrilhou sua carreira. Vejamos.

Rodrigo Naves o publicou pela primeira vez (“O trono”) em 1988, na Revista Novos Estudos Cebrap. Assim como Priscila Figueiredo, poeta, ensaísta e professora de Literatura na USP, fez uma resenha crítica na mesma Novos Estudos Cebrap do Ver navios, este também resenhado na Cult por Reynado Damazio, poeta e editor, que mais para frente publicou Poemitos (juvenília) pela Dobra Editorial.

Em várias ocasiões teve textos publicados na revista piauí por indicação do crítico literário Roberto Schwarz, na revista Cult, bem como na Folha de S. Paulo e em revistas acadêmicas. Também publicou no site Outras palavras, e nas revistas políticas Praga, teoria & debate, Margem esquerda, no tabloide Nicolau, de Curitiba, na revista literária 34 Letras, do Rio, entre outros.

Maria Rita Kehl escreveu a orelha de Levante (2017), e os dois próximos livros, Polir chinelo e Cinema & literatura, tem orelha de Iná Camargo Costa.

Atualmente assina a coluna “Fragmentos” no site A Terra é redonda, está com dois livros no prelo pela editora Nankin e se dedica à republicação de seus livros até então fora de catálogo. A ideia é revisar e reeditar pelos menos dois por ano para, em breve, ter todos disponíveis ao leitor em segunda edição.

Isto porque, geralmente, os livros publicados pelas editoras saem com uma tiragem de algumas milhares de cópias e poucos têm demanda para serem reimpressos. Além disso, os títulos que não vendem num certo período de tempo acabam sendo incinerados para não gerar custos logísticos para as editoras.

Com a chegada da tecnologia da impressão sob demanda e do e-book, os livros não esgotam mais.

 

Mas essa história mudou. Com a chegada da tecnologia da impressão sob demanda e do e-book, os livros não esgotam mais, ficam disponíveis nas grandes lojas on-line por tempo indeterminado, se assim o autor desejar. E hoje em dia, não só os autores independentes mas também as editoras tradicionais lançam mão desse recurso para muitos de seus títulos.



Airton Paschoa começou jovem, escrevendo poemas. Uma seleção delas foi reunida em Poemitos (juvenília), publicado em 2013.

Dos poemas de juventude, transitou aos contos e continhos. Seu primeiro livro, Contos tortos, de 1999, reuniu uma seleção de dez anos de produção.

Em seguida publicou a noveleta pornopolítica Dárlin (2003), ilustrada por Mauro Bellesa. Foi sua tentativa mais comercial, digamos assim. Mas o livro não gerou a repercussão esperada e decidiu-se recolher à poesia.

Paschoa conta que, tentando encaixar negativa sobre negativa de editoras de todos os portes e matizes, pensou seriamente em fazer outra coisa na vida, desistir de sua carreira de escritor.

 

Paschoa conta que, tentando encaixar negativa sobre negativa de editoras de todos os portes e matizes, pensou seriamente em fazer outra coisa na vida, desistir de sua carreira de escritor. Para nossa sorte, foi socorrido de sua crise literária mais profunda por Valentim Facioli, professor de Literatura da USP aposentado e dono da Nankin, que publicou Ver navios (2007), com texto de orelha do Rodrigo Naves.

Em seguida publicou Banho-maria (2009), A vida dos pinguins (2014) e Levante (2017), a lapidar formas ainda mais curtas que o conto e a novela, como narrativas curtíssimas e poemas em prosa.

Hoje, considera tudo quanto escreve poema em prosa; por isso a identificação de poemista em prosa, em lugar de poeta e escritor. O fato é que se impôs a forma breve.

Perguntado sobre suas ideias, seu processo criativo, diz sem pestanejar, “Vêm da cisma — esse hábito caipira de ficar pensando na morte da bezerra”.

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imagem @Harmen Steenwijck

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