No Dia da Consciência Negra, aproveitamos para propor uma reflexão sobre o poder da literatura na luta por igualdade e justiça.
Nos lançamentos do livro Inverno, o segundo volume da série As estações, a autora galáctica Veronica Botelho tem promovido conversas para celebrar vozes e histórias negras e assim, multiplicar perspectivas.
Veronica (ao centro) com Antonia, no Dia da Consciência Negra
No lançamento no Rio de Janeiro, conversou com Antonia Ceva, pedagoga, Mestre em Educação Brasileira e Doutora em Serviço Social pela PUC do Rio. É também educadora antirracista com especialização em relações étnico-raciais pela UFBA.
Lilia e Veronica em evento na livraria Bibla
Detalhe com a capa do livro Inverno
Lilia e Veronica
Em São Paulo, conversou com Lilia Guerra, autora de O céu para os bastardos, Perifobia, Rua do Larguinho e outros descaminhos, entre outros.
Foi pauta da CNN Brasil em matéria intitulada “Racismo em famílias inter-raciais é tema de livro, mas existe além da ficção”. Leia aqui.
Para as artes das capas da série As estações, a designer do projeto Mika Matsuzake sugeriu e dirigiu o trabalho de Aline Bispo para ilustrá-la por ter também um portifólio fortemente ligado à negritude e uma estética que dialogaria com o texto da autora.
A seguir, Veronica explora a importância da representatividade na literatura, o impacto da racialização na sociedade e o papel da consciência negra na construção de um futuro mais igualitário.
Veronica autografa seu livro durante a Flip 2024
Quando penso no Dia da Consciência Negra, lembro-me das inúmeras pessoas que construíram o caminho que hoje percorremos.
Pessoas como a minha avó, que aprendeu a ler quando eu já existia.
Nesse Dia, somos chamadas a refletir sobre as histórias que nos trouxeram até aqui e sobre como podemos avançar rumo a uma sociedade mais justa e equitativa.
Acredito que a literatura negra tem um papel único nesse processo.
Mais do que palavras, a literatura negra é memória, resistência e um convite à transformação. Através dela, podemos desconstruir narrativas, amplificar vozes silenciadas e construir pontes para um futuro mais justo.
O que vivemos hoje é fruto de um longo processo que atribuiu à cor da pele uma construção social, um processo de racialização.
As pessoas negras representam:
56% da população brasileira; 75% das vítimas de violência policial; 62% da população carcerária; 2% dos cargos de alto escalão nas maiores empresas do país.
Esses números não são acidentais. São o resultado direto de um projeto histórico de poder que usou a ideia de raça para criar e manter privilégios.
Veronica autografa seu livro n’A feira do livro do Pacaembu, em 2024
Desconstruir esse sistema não é apenas uma questão de reconhecimento, mas de ação concreta para transformar essas estruturas de desigualdade.
É aqui que a literatura negra exerce sua força. Ela nos confronta com essas realidades, oferecendo não apenas um reflexo do passado e do presente, mas também, possibilidades de futuro.
Ler histórias que por tanto tempo foram silenciadas, que expõem as violências sofridas e a negação de um futuro, nos coloca no que chamo de “limbo emocional” – um espaço onde a dor e a raiva coexistem com a vontade de seguir em frente e transformar a realidade.
O termo “literatura negra”, neste momento, é essencial como uma forma de reparar o silenciamento histórico de vozes negras. Porém, meu desejo é que essa nomenclatura seja transitória, uma ponte para uma literatura universal, onde todas as histórias sejam valorizadas pelo que são, sem limitações impostas.
Eu trouxe para os meus romances Inverno e Verão o problema do racismo, mas não só. Há em ambos a temática dos transtornos mentais, um problema que atinge todas as sociedades. Sou psicóloga e vejo a necessidade urgente de debatermos essa questão também.
A literatura não é apenas um espelho da sociedade; ela é uma ferramenta para imaginar novas possibilidades. Por meio dela, podemos transformar, questionar estruturas e criar horizontes mais amplos.
Neste Dia da Consciência Negra, celebro a literatura como um espaço de resistência, transformação e conexão. Que ela continue a ser uma força que multiplica vozes, constrói pontes e nos leva a um futuro mais justo e plural.
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