Sonetos em prosa, que abre o volume, reage por assim dizer à impressão visual que tivemos, jovem ainda, ao deparar os sonetos shakespearianos. E quando digo impressão visual, não faço figura, é isto mesmo, impressão retida em retina, os catorze versos de negro no deserto da página luzindo, com seu dístico final entrado – e saindo da combalida caravana, à moda de beduínos se desgarrando sabe Alá por obra de qual miragem. Que diabos tem que ver com essa alegoria desengonçada o bardo inglês, não me perguntem. Que diabos também tinha eu de soletrá-lo com meu inglês vigário?!O que se pode perguntar, é o que sempre me pergunto, por que publicar “poesias” quem não é poeta? Quem nunca cuidou da arte de versificar, por que destratar sonetos, e elisabetanos, (ingleses, que seja) alheios à tradição mais fecunda das nossas letras? Ensaio uma resposta, sincera e sem certeza. Nesta altura da vida, da história, do mundo, da baixa idade moderna, enfim, a literatura, que não existe mais, ou que imaginávamos existisse, se converteu em questão pessoal. Mas pessoal, se nos é lícito forçar o paradoxo, no sentido menos pessoal possível: não porque queira ver o que me tornei, isso já sei há séculos, senão no que pudemos nos transtornar. São os passos dessa paixão pobre, incertos, que os livrinhos inventariam, ecoam e cobrem.
Banho-maria
R$9,90Nas águas de Ver navios (2007), este livro acolhe a mesma diversidade de formas breves. Os escritos (ao autor repugna a palavra “textos”) vão desde contos e crônicas, passando por poemas piadas ou poemas em prosa, até poemas tout court, sem prosa. O diálogo com Ver navios não é apenas genérico. Assim, “Fantasia coral” replica “A truta” schubertiana do outro livro…
O que talvez não se reproduz inteiramente é o estado de espírito do eu lírico-narrativo. À semelhança do primo mais velho…
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