Blog

Janaína é uma professora de história que sempre gostou de escrever contos eróticos. Eles iam se amontando ali, no canto do quarto. Um dia, incentivada por uma amiga, decidiu reunir tudo e publicar na internet. Era dezembro de 2012, mesmo ano em que a Amazon chegava ao Brasil. Não por acaso, ela escolheu o KDP (Kindle Direct Publishing), ferramenta de autopublicação da Amazon para estrear como autora. Escolheu, também, seu nome artístico: Nana Pauvolih. Ela conta que no primeiro mês como escritora, recebeu pelas vendas do livro o equivalente a um salário de professora. Seis meses depois, quando já era um fenômeno da internet, abandonou a carreira de magistério para se dedicar em tempo integral à carreira de autora.
Nana não é um caso isolado. Assim como ela, muita gente tem o sonho de escrever um livro, mas não consegue vencer o principal obstáculo entre a produção e a publicação: a necessidade de uma editora. “As ferramentas digitais chegam para eliminar esse gargalo”, acredita Ricardo Garrido, gerente geral de conteúdo para Kindle da Amazon Brasil. Nós trabalhamos em duas pontas: no consumidor, oferecendo a leitura desse conteúdo em um produto como o Kindle, ou aplicativo do Kindle; e, na outra ponta, com o KDP, que é uma ferramenta muito simples de manejar e permite que um autor, uma pessoa que tem um livro escrito ou alguém que tem um blog, consiga em meia hora publicar um livro online, e de graça”, conta Garrido.
“Meia hora” não é força de expressão. A ferramenta é realmente amigável, assim como outras similares, como o Publique-se!, da Saraiva; e o Bibliomundi. Com uma ou outra variável, funciona assim: a pessoa faz o upload do arquivo em formato texto e um assistente virtual permite ao usuário escolher a capa, o título, o tipo de fonte (família de letra) que vai usar. No caso da Amazon, o autor escolhe até em quais países vai comercializar. “O autor decide também o valor que vai cobrar”, diz Garrido.
A liberdade no valor a ser cobrado é outro ponto comum entre as ferramentas de autopublicação. Na maioria dos casos, o modelo de negócio da empresa que oferece o serviço é a cobrança de uma participação nas vendas. Raphael Secchin, fundador da Bibliomundi, fala sobre esse tipo de acordo: “A gente só ganha quando o autor está ganhando também. Assim, eles podem ousar em suas histórias, pois acreditamos que todo conteúdo tem sua audiência”
O segredo, portanto, é estar disponível para alcançá-la. A Bibliomundi trabalha com autores autônomos e, segundo ele, não filtra autores nem gêneros. “O mercado editorial está recheado de histórias escritores que foram recusados por diversas editoras antes de virarem sensações mundiais. Para nós, todos devem ter o direito e facilidade de se publicar, pois desta forma poderão ser encontradas as obras fora da curva”, afirma Raphael.
O aplicativo dele surgiu em 2015, mas antes disso ele já trabalhava no mercado editorial digital, com o atual sócio, Pedro Lopes. “Diariamente recebíamos pedidos de autores autônomos em busca de instruções para terem os seus e-books à venda na loja. Foi quando decidimos empreender e atender este mercado”, conta.

COMO TORNAR A AUTOPUBLICAÇÃO ALGO PROFISSIONAL ?

Além da autopublicação pura e simples, há um mercado surgindo especificamente para ajudar novos autores – e mesmo os já estabelecidos – na publicação digital. Até a chegada do e-book no Brasil, os quatro fundadores da e-galáxia prestavam serviço para grandes editoras como revisores, capistas, ilustradores e editores. Com a expansão do uso da tecnologia, isso mudou. Tiago Ferro, um dos sócios da editora, diz: “A chegada dos leitores digitais mostrou que esse não era um produto B das editoras, que passaram a ter o mesmo cuidado que tinham no formato tradicional com a versão digital”. Ele diz que, naquele momento os sócios então decidiram oferecer diretamente aos autores o serviço que ofereciam para as editoras, “mas para a publicação digital, abrindo espaço para publicações independentes”.

Um astronauta divulgou o lançamento da e-galáxia em Paraty durante a 11.ª edição da Flip. A editora digital vai além de oferecer a autopublicação e também ajuda autores iniciantes a se situarem no mercado.

“Nós recebemos o autor e mostramos qual a melhor forma do livro dele ser editado. A partir daí, oferecemos algumas opções de colaboradores”, diz, e prossegue: “Fazemos o meio de campo entre o autor e os prestadores de serviços e realizamos a distribuição para as lojas. Nesta etapa, nos comportamos exatamente como uma editora tradicional”. Portanto, ao contrário do que acontece nas demais plataformas de autopublicação, aqui há um custo variável por tipo de livro, número de páginas etc. Apesar disso, Tiago exemplifica que para publicar um livro de 100 páginas, apenas com texto – sempre no formato digital, vale lembrar —, o autor vai desembolsar cerca de 3 mil reais.
O que muda, no caso, é a remuneração: o autor fica com 40% do valor de venda, a editora com 10% e a livraria online, com 50%. Na publicação tradicional, em papel, o autor normalmente fica com 10% e a editora, com 40%. Tiago fala dessa mudança de modelo, em que só permanece igual o percentual da loja:

“Na autopublicação, invertemos a proporção dos royalties porque é o autor que está financiando o próprio livro”

Nas diferentes ferramentas, esse percentual é bastante semelhante. No caso da Amazon, o autor fica com 35% do preço cobrado. “No nosso caso, se o autor optar em fazer parte do KDP Select, que é manter seu livro exclusivamente na Amazon, passa a ganhar até 70% do valor das vendas”, diz Garrido, da Amazon.

Artigo originalmente publicado em 12/07/2017
por Patrícia Bull, no Projeto Draft

Imagem @ AC Espilotro

Deixe um comentário