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Com mais títulos publicados diretamente em formato digital, os e-books ganham força

Há quem prefira o papel e justifique com o formato, o cheiro, a textura. Mesmo assim, com o nariz torcido dos puristas, os e-books têm quebrado barreiras, alcançado reconhecimento em prêmios e, cada vez mais, livros são publicados apenas no formato virtual.

Um dos mais importantes prêmios literários em língua portuguesa, o Oceanos, aceitou, neste ano, a inscrição de livros publicados apenas em e-books. Com inscrições abertas até 30 de novembro, o Prêmio Kindle de Literatura, da Amazon, vai escolher os melhores romances publicados apenas na plataforma da empresa.

“A importância disso é enorme. É sempre um sinal importante de um mediador de prestígio que dá o seguinte recado: ‘Olha, livro é livro, digital ou papel. O que importa é a qualidade do autor e da edição’”, acredita o editor Tiago Ferro.

Um dos donos da e-galáxia, Tiago fundou a editora, com mais três sócios, em 2013, para trabalhar apenas com livros digitais. “Entendemos lá naquela época que o digital era muito mais do que a versão B de livros já editados em papel”, lembra. “Baixos custos de produção, distribuição universal, compra em tempo real, formavam um quadro propício para desdobramentos criativos e experimentais.”

Não à toa, foram na e-galáxia que surgiram alguns projetos literários em formato digital que mais movimentaram o cenário brasileiro, como a série Delegado Tobias, do escritor Ricardo Lísias. A editora tem dois livros entre os finalistas do prêmio Oceanos, um deles do próprio Lísias.
“Trata-se de uma forma de literatura, assim não há nenhum motivo razoável para que ebooks estejam de fora de todos os eventos ligados à literatura”, acredita o escritor. Para ele, ainda existe, sim, preconceito, que será quebrado aos poucos.  “Acho que há ainda um certo preconceito quanto aos e-books, o que me parece estranhíssimo: por que recusar algo que não apenas acrescenta novas possibilidades como ainda oferece uma forma ainda mais ampla de circulação literária?”, explica.

Tanto em Delegado Tobias (que lhe rendeu até um inquérito na Polícia Federal) quanto em Fisiologia da idade (semifinalista do Oceanos), Lísias pensou em escrever considerando o formato. “Fisiologia da idade foi concebido para funcionar em e-book. O plano era esse desde o início: a disposição das imagens, as três histórias que vão se unindo, a formatação, tudo foi pensado para o leitor digital”, conta.

“Foi assim desde o planejamento, então não tem como pensar de outra forma. Não pretendo autorizar a publicação em nenhum outro formato, como também do Delegado Tobias”, completa.

Divulgação

O escritor paraibano Roberto Menezes lançou a segunda edição do romance Palavras que devoram lágrimas apenas em formato digital. O fato de ter sido premiado antes já dava uma divulgação maior, mas a obra em e-book abriu ainda mais os horizontes. “Muitas pessoas só chegaram a ler por causa da publicação digital.”

Um dos que ainda gostam muito do papel, Roberto diz que as qualidades do e-book, no entanto, fazem esse tipo de publicação valer a pena. “Gosto de ter meus livros publicados em papel, mas isso perde de longe ao perceber que o horizonte de leitores pode aumentar. O digital, não sei se logo, mas é um caminho irreversível. Tudo fica mais barato e mais acessível.”

Tanto o editor Tiago Ferro quanto os escritores Ricardo Lísias e Roberto Menezes concordam que o e-book é um caminho inevitável e deve crescer ainda mais. “O crescimento está provado nas pesquisas que nem sempre dão um quadro completo porque não computam as vendas de lojas independentes de e-books. Se a autopublicação pudesse ser totalmente rastreada, os números surpreenderiam”, garante Tiago.

Três perguntas / Tiago Ferro

O e-book vai se consolidar ainda mais como uma maneira de publicação que independe do livro físico?

Acredito que essa seja a tendência. O e-book como independente do papel. O e-book vai encontrar as próprias soluções estéticas para o suporte, os seus nichos de mercado e se colocar realmente como uma nova forma de publicar livros. Dessa maneira o discurso papel versus digital deixa de fazer sentido. Tudo é livro. Mas são dois mundos que coexistem.

É um caminho publicar apenas pelo e-book?

Acho que na e-galáxia estamos conseguindo mostrar isso. Três anos de editora, 250 títulos, três participações na Flip com autores na programação principal, livros nas listas de mais vendidos, autores de prestígio aderindo ao projeto. Sim, definitivamente é um caminho.
Com a experiência na e-galáxia, o que você pode perceber sobre o mercado brasileiro?

É um mercado cada vez mais maduro. Que cresce, não tão rapidamente como ocorreu nos EUA, mas de forma consistente. Quem experimenta um e-book hoje em dia, certamente se transforma num leitor de digital e papel. As facilidades são muitas: preço, qualidade do formato, compra instantânea.

Artigo publicado originalmente no
Correio Brasiliense em 05/11/2016

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